11/03/10

Artigo de hoje

Um outro olhar sobre a I República III

(continuação da edição anterior)

A I República, apesar de tudo, teve também coisas boas, como por exemplo, a extinção de todos os titulos de nobreza, a instituição de um serviço público de registo civil, a instituição do descanso semanal obrigatório, entre muitas outras coisas… Porém, uma figura tenebrosa ensombrou a República. Falo, claro está, do Dr Afonso Costa. Hábil, astuto, instruído e com poucos escrupulos morais ou mesmo civicos, era um homem que não olhava a meios para atingir os fins a que se propunha. Sendo ele um anticlericalista primário, foi sobretudo por causa dele que a Igreja Católica portuguesa sofreu terriveis perseguições, uma vez que via no clero e na Igreja a origem de todos os males nacionais e universais. Logo que chegou ao poder, propôs-se de imediato acabar com a religião em duas gerações. Só que houve um problema: a república ao envolver-se contra a Igreja mediu mal as forças em presença, uma vez que a esmagadora maioria da população portuguesa era católica devota, e portanto, não aceitou nada bem as politicas anti clericais republicanas. E isso viu-se quando em 1917 ocorreram na Cova da Iria as aparições marianas, que constituiu um fortissimo aumento do fervor religioso do povo português. O maior erro da I República foi a meu ver a luta encarniçada que organizações como a maçonaria ou a tenebrosa Carbonária, que estiveram por trás da implantação da república em 1910, moveram contra a Igreja Católica. Este, e muitos outros factores foram decisivos para a queda da I República em 28 de Maio de 1926.
Voltando agora a falar na figura de Afonso Costa, foi um dos fundadores do Partido Republicano Português, que desde cedo dominou com a sua astúcia e vontade férrea. Não ouvia nem consultava ninguém e eliminava os seus camaradas de partido que se lhe opusessem. Através do PRP dominou o país e os outros partidos, recorrendo muitas vezes á intriga e ao terror sem limites, para o que se servia de alianças pontuais com a carbonária a quem deixava o “trabalho sujo” dos assaltos, dos espancamentos e dos assassinatos.
E o mais cinico é que tudo isto era feito em nome da Democracia, vocábulo que se tornou odiado e temido pelo povo português anónimo.
De facto, a “democracia republicana” levou a que em menos de 16 anos houvessem dezenas de governos, alguns dos quais não chegariam a completar 15 dias em funções, e que em 8 presidentes da república, um deles, o general Sidónio Pais ter sido abatido a tiro na estação do Rossio em Lisboa, a 14 de Dezembro de 1918, e apenas um, o Dr António José de Almeida ter cumprido na totalidade o seu mandato, é apenas uma amostra de que a I República foi um fracasso total.
Isto de se chamar “Democracia” ao processo de impor a um povo um regime estatal e de chamar democraticos aos métodos brutais de o manter envenenaram a república desde a sua instauração. Essa coisa de dizer que a primeira I república foi um regime democrático não passa de uma tremenda heresia que se tem mantido, irremediavelmente, até aos dias de hoje.

(continua na próxima edição)

Publicado no jornal "Noticias do Vale" no dia 11 de Março de 2010