Um outro olhar sobre a I República III (continuação da edição anterior) A I República, apesar de tudo, teve também coisas boas, como por exemplo, a extinção de todos os titulos de nobreza, a instituição de um serviço público de registo civil, a instituição do descanso semanal obrigatório, entre muitas outras coisas… Porém, uma figura tenebrosa ensombrou a República. Falo, claro está, do Dr Afonso Costa. Hábil, astuto, instruído e com poucos escrupulos morais ou mesmo civicos, era um homem que não olhava a meios para atingir os fins a que se propunha. Sendo ele um anticlericalista primário, foi sobretudo por causa dele que a Igreja Católica portuguesa sofreu terriveis perseguições, uma vez que via no clero e na Igreja a origem de todos os males nacionais e universais. Logo que chegou ao poder, propôs-se de imediato acabar com a religião em duas gerações. Só que houve um problema: a república ao envolver-se contra a Igreja mediu mal as forças em presença, uma vez que a esmagadora maioria da população portuguesa era católica devota, e portanto, não aceitou nada bem as politicas anti clericais republicanas. E isso viu-se quando em 1917 ocorreram na Cova da Iria as aparições marianas, que constituiu um fortissimo aumento do fervor religioso do povo português. O maior erro da I República foi a meu ver a luta encarniçada que organizações como a maçonaria ou a tenebrosa Carbonária, que estiveram por trás da implantação da república em 1910, moveram contra a Igreja Católica. Este, e muitos outros factores foram decisivos para a queda da I República em 28 de Maio de 1926. Voltando agora a falar na figura de Afonso Costa, foi um dos fundadores do Partido Republicano Português, que desde cedo dominou com a sua astúcia e vontade férrea. Não ouvia nem consultava ninguém e eliminava os seus camaradas de partido que se lhe opusessem. Através do PRP dominou o país e os outros partidos, recorrendo muitas vezes á intriga e ao terror sem limites, para o que se servia de alianças pontuais com a carbonária a quem deixava o “trabalho sujo” dos assaltos, dos espancamentos e dos assassinatos. E o mais cinico é que tudo isto era feito em nome da Democracia, vocábulo que se tornou odiado e temido pelo povo português anónimo. De facto, a “democracia republicana” levou a que em menos de 16 anos houvessem dezenas de governos, alguns dos quais não chegariam a completar 15 dias em funções, e que em 8 presidentes da república, um deles, o general Sidónio Pais ter sido abatido a tiro na estação do Rossio em Lisboa, a 14 de Dezembro de 1918, e apenas um, o Dr António José de Almeida ter cumprido na totalidade o seu mandato, é apenas uma amostra de que a I República foi um fracasso total. Isto de se chamar “Democracia” ao processo de impor a um povo um regime estatal e de chamar democraticos aos métodos brutais de o manter envenenaram a república desde a sua instauração. Essa coisa de dizer que a primeira I república foi um regime democrático não passa de uma tremenda heresia que se tem mantido, irremediavelmente, até aos dias de hoje. (continua na próxima edição) |
Publicado no jornal "Noticias do Vale" no dia 11 de Março de 2010