23/02/10

Em primeira mão...

O meu artigo para o "Noticias do Vale" no dia 25 de Fevereiro de 2010

100 Anos de República

Um outro olhar sobre a 1ª República II

(Continuação da edição anterior)

Mas se o meu caro leitor pensa que a 1ª República era hostil só para com a Igreja católica, bem pode ir tirando daí o sentido. De facto, todo aquele que não se mostrasse favorável ao novo regime, arriscava-se a sofrer represálias de toda a ordem. Não forma raros os casos de monárquicos presos apenas pelas suas convicções, que, se o regime fosse verdadeiramente democrático, eram livres de as terem. Mas, só para terem ideia daquilo que foi a “democracia” da 1ª República, vou só aqui deixar alguns exemplos, alguns deles verdadeiramente bizarros e inacreditáveis aos olhos de hoje. Como é óbvio, a “história oficial” da República não conta episódios destes, mas o facto foi que os mesmos aconteceram. Vejamos o caso do extinto jornal o “Novidades”, que se atreveu a criticar as politicas anticlericais de Afonso Costa, e por isso viu uma das suas edições apreendidas. Aqui está um claro exemplo da falta de liberdade de imprensa. Um outro caso insólito, ridiculo até, foi aquando da fundação no ano de 1921 da Banda Nova de Fermentelos, uma filarmónica ainda hoje existente no concelho de águeda, em que o então administrador do concelho queria apreender a bandeira que tinha sido escolhida para simbolo da banda, apenas por esta ter as cores azul e branca que, por acaso, eram as cores da bandeira da monarquia, abolida com a adopção da nova bandeira nacional em 1911. Tal apreensão acabou por não se concretizar devido á astúcia e persistencia do maestro e dos músicos de então. Um desses músicos, com dotes para a poesia, fez então uma quadra, que resume todo o episódio que se viveu:
“Ó grande administrador
A bandeira querias ver
Não ta quiseram mostrar
Tiveste que te render”
Infelizmente, não foi só o “Novidades” que teve problemas com a “censura democrática” Outros jornais, como foi o caso,entre outros, do “Diário da Tarde” do Porto e o “Jornal de Elvas” viram as suas portas encerradas por motivos puramente politicos. Também em 1919 todos os jornais de linha monárquica existentes em Lisboa foram encerrados pelo governo.
Em 1911 o Circulo dos Católico de Operários foi apedrejado em Gaia. Nesse mesmo ano, Sampaio Bruno, uma das grandes figuras do 31 de Janeiro foi enviado para o exilio em Paris, apenas por ter escrito que a cidade do Porto se encontrava numa situação intolerável. Anos mais tarde, Sampaio Bruno viria a ser alvo de ameaças por parte da carbonária, por se ter mostrado desagradado com a situção politica portuguesa.
E continuava a perseguição á Igreja. No ano de 1912 o Bispo de Portalegre foi expulso da sua diocese. Também em Sto Tirso, a prisão de dois sacerdotes motivou protestos de indignação por parte do povo.
Uma outra coisa é conveniente dizer: quando a república foi implantada, não pense caro leitor, que foi porque a maior parte da população era republicana. O país rural, ou seja a provincia, era profundamente católica, conservadora e fiel ao rei. Os republicanos então existentes eram algumas dezenas de intelectuais de lisboa e do Porto, umas escassas centenas de anarquistas e pouco mais. Estima-se que entre 1911 e 1913 haviam, num país com 5 milhões de habitantes, 300 000 republicanos, e foram estes que impuseram a república á maioria do povo luso, a quem consideravam de analfabetos e atrasados, e por isso, eram irrelevantes…

(continua na próxima edição)