No ano em que a República Portuguesa comemora o seu primeiro centenário, irei dedicar algumas das minhas crónicas á história do republicanismo português. A nossa república, ao longo destes cem anos teve, como qualquer instituição politica, os seus altos e baixos, as suas coisas boas e más. Discutir a república ainda hoje gera polémica, controversia e acesas discussões. Sobre a república muito se tem escrito, muito se tem falado, muito se tem discutido, no entanto a história é feita de factos, e o facto é que a primeira república acabou por se tornar um autentico fracasso, muito por culpa das “intentonas” dos monárquicos, como foram os casos de Paiva Couceiro e Pimenta de Castro, e também por outros factores, que posteriormente serão abordados neste espaço.
Mas não faria sentido abordar o tema da república sem primeiro falar na pouco conhecida mas na não menos importante revolta do 31 de Janeiro.
Quando saímos na estação ferroviária de S. Bento na cidade do Porto, e subimos a rua que vai da Igreja de Sto António dos Congregados á Igreja de Sto Ildefonso, vemos hoje uma rua normal, cheia de lojas, com um transito intenso, enfim uma rua pacifica como outra qualquer. Contudo naquele 31 de janeiro de 1891 aquela rua foi tudo menos pacifica.
A 30 de Janeiro uma comissão revolucionária, liderada, entre outros, por figuras como João Chagas, Sampaio Bruno, Dr Alves da Veiga, Capitão Leitão e pelo célebre Alferes Malheiro decidiu avançar com o processo de levantamento militar das tropas nas horas seguintes. Na madrugada de 31 de Janeiro o Batalhão de caçadores Nº 9, comandado por Sargentos, subleva-se e dirige-se para o campo de Sto Ovidio, onde chega o Alferes Malheiro, que desta forma adere á revolta. Outras forças militares, nomeadamente de infantaria e cavalaria ali se juntaram, juntamente com alguns elementos da guarda Fiscal. Os primeiros momentos que se seguiram foram de surpresa para as forças fiéis á monarquia, mas passado pouco tempo estas organizam-se e ocupam estratégicamente o alto da rua de Sto António, hoje rua 31 de Janeiro.As forças revoltosas tomaram entretanto uma atitude que acabaria por se revelar fatal, uma vez que acreditaram que não haveriam confrontos e só quando os primeiros disparos é que prepararam as suas defesas. No meio destes confrontos, ouviam-se os acordes da marcha “A Portuguesa”, uma obra musical escrita contra o célebre Ultimatum, e entretanto proibida pelo regime vigente, os revoltosos lutaram com coragem e bravura contra as hostes monárquicas.
Enquanto tudo isto decorria, o Dr Alves da Veiga, rodeado pelos seus camaradas republicanos, proclamava da varanda da Câmara Municipal do Porto a extinção da monarquia em Portugal e a constituição do Governo provisório da república.
A Guarda Municipal deu então inicio a um feroz tiroteio, pondo em debandada a resistencia republicana, tentando esta ainda opor resistencia, mas acabaria por ser derrotada pela artilharia. Para os heróis do 31 de Janeiro restava a prisão e o exilio. Só quase 20 anos depois, a república acabaria finalmente por implantar-se, e desta vez não haveria força capaz de reprimi-la.
No cemitério do Prado do Repouso, situado na rua do Heroismo ergue-se Hoje um monumento aos “Vencidos do 31 de Janeiro”, repousando ao lado deste num modesto tumulo o Alferes Malheiro.
Uma interessante exposição permanente sobre a revolta republicana está patente no Museu Militar do Porto, também situado na rua do Heroismo, que merece bem uma visita atenta e cuidada.
Publicada no Jornal "Noticias do Vale" no dia 28 de Janeiro de 2010