“Uma coisa é comemorar os 100 anos da República, outra é celebrar a 1ª República”. Esta frase, proferida recentemente pelo Dr Paulo Portas em Guimarães serviu-me de mote para a crónica de hoje, em que pretendo falar um pouco sobre a “Outra face” da 1ª República, que a maioria das pessoas, vá-se lá saber porquê, desconhecem. Quando em 4 de Outubro de 1910 rebentou a revolução republicana em Lisboa, o chefe civil do movimento, Dr Miguel Bombarda, cujo nome figura em inumeras ruas e avenidas do nosso país, tinha sido assassinado de véspera por um doente mental. Como o movimento saiu para a rua de forma caótica e desorganizada, o chefe militar deste, Almirante Cândido dos Reis, vendo esta situação e pensando que tudo estava perdido, suicida-se. Assim, num espaço de 24 horas, a revolução perdia os seus principais chefes. Mas para que a revolução triunfasse, foi decisiva a acção do comissário naval Machado Santos, que viria a ser assasinado 11 anos mais tarde na “noite sangrenta” de 19 de Outubro de 1921, juntamente com António Granjo e Carlos da Maia, de quem se falará numa edição posterior. Machado Santos agiu de maneira inteligente, concentrando as suas tropas na rotunda do Marquês de Pombal, e após uma longa espera, desceu a avenida, sendo aclamado no Rossio, tendo depois subido á varanda da Camara Municipal de Lisboa proclamar a implantação do novo regime. O que não é costume dizer, é que a resistencia das forças afectas á monarquia estavam desorganizadas, e por isso a reacção não foi a melhor. Apenas Paiva Couceiro, herói das campanhas de África, se destacou na parca resistencia que houve ao movimento. Portanto, a vitória das forças republicanas ficou-se a dever em grande parte á desorganização das forças monárquicas. Enquanto estes acontecimentos decorriam, o rei D. Manuel II tinha saído do Palácio das Necessidades, quando este começou a ser bombardeado por navios revoltosos estacionados no Tejo, tendo ido para Mafra, onde recebeu a noticia de que em Lisboa “tudo estava consumado”. Partiu para a Ericeira, onde embarcou para um definitivo exilio. A 5 de Outubro, o país atónito, recebeu por telegrafo a noticia de que a republica se havia implantado. E assim, Portugal passou a ser uma república “democrática”. O partido republicano, que se intitulava como democrata, e que se proclamava fazer a revolução em nome da democracia, foi tudo menos democrata, por duas razões fundamentais: Primeiro, porque impôs uma mudança de regime ao povo português sem o consultar, talvez temendo saber a opinião da maioria dos portugueses. Em segundo lugar, recorreu ás mais tenebrosas formas de ditadura e até de terrorismo, fazendo inumeras prisões sem culpa formada, exilando, espancando e muitas vezes matando quem se lhe opunha, como era o caso da Hierarquia da Igreja católica, que foi talvez a instituição que mais sofreu com a 1ª república. Logo no 5 de Outubro houveram sacerdotes assassinados como foi o caso, entre outros, do Padre Barros Gomes e dos dois padres Lazaristas. O então bispo do Porto, D. António Barroso, cujo processo de beatificação se encontra a decorrer, sofreu o exilio, os bens das ordens religiosas foram nacionalizados, caindo muitos dos seus melhores edificios nas mãos de particulares, acabando boa parte deles por ficar entregue ao abandono e á degradação. Ainda hoje, se visitarmoos algumas igrejas sobretudo no norte do país, podemos ver a completa ruina de muitos edificios. A liberdade religiosa, ou melhor, a falta dela, chegou a tal ponto que chegaram a ser proibidas as procissões e até mesmo o toque de sinos das igrejas. Se isto era Democracia e liberdade, então eu não sei o que é… (Continua na Próxima edição) |